genilde gomes de oliveira investigação epidemiológica e ... - RI/UFS [PDF]

análise espacial mostrou que a distribuição da doença não foi homogênea. A prevalência da ..... trabalhadores uti

40 downloads 13 Views 8MB Size

Recommend Stories


TATIANE DE OLIVEIRA SILVA _DISSERTAcao_.pdf
It always seems impossible until it is done. Nelson Mandela

juliana cestari de oliveira
Live as if you were to die tomorrow. Learn as if you were to live forever. Mahatma Gandhi

Gustavo Rodrigues de Oliveira
If you want to become full, let yourself be empty. Lao Tzu

Dissertacao_Marcio Sequeira de Oliveira
Those who bring sunshine to the lives of others cannot keep it from themselves. J. M. Barrie

Aline Tortora De Oliveira
No amount of guilt can solve the past, and no amount of anxiety can change the future. Anonymous

Mariana de Oliveira Diniz
We must be willing to let go of the life we have planned, so as to have the life that is waiting for

Lanussy Porfiro de Oliveira
We can't help everyone, but everyone can help someone. Ronald Reagan

Fernanda Maria de Oliveira
We may have all come on different ships, but we're in the same boat now. M.L.King

jeciane de paula oliveira
Don’t grieve. Anything you lose comes round in another form. Rumi

(1536), DE FERNÃO DE OLIVEIRA
Learn to light a candle in the darkest moments of someone’s life. Be the light that helps others see; i

Idea Transcript


E FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE DOUTORADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

GENILDE GOMES DE OLIVEIRA

INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E GEOESPACIAL DA ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA EM ÁREA OCUPADA POR TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA

Aracaju 2016

GENILDE GOMES DE OLIVEIRA

INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E GEOESPACIAL DA ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA EM ÁREA OCUPADA POR TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA

Tese apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe, como parte do requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciências da Saúde.

Orientadora: Profª. Dra. Ângela Maria da Silva Co - Orientadora: Profª Drª Karina Conceição G. M. de Araújo

Aracaju 2016

GENILDE GOMES DE OLIVEIRA

INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E GEOESPACIAL DA ESQUISTOSSOMOSE MÂNSONICA EM ÁREA OCUPADA POR TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA Tese apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em Ciências da Saúde Aprovada em: ________/______/_______

BANCA EXAMINADORA

Orientador: Profa. Dra. Angela Maria da Silva

Co - Orientador: Profa. Dra. Karina Conceição G. Machado de Araújo

1º Examinador: Prof. Dr. Marco Antônio Prado Nunes

2º Examinador: Profa. Dra. Luciene Barbosa

3º Examinador: Profa. Dra. Iza Maria Fraga Lobo

4º Examinador: Prof. Dr. Marcos Antônio Costa de Albuquerque

PARECER

DEDICATÓRIA

Dedico este projeto à população que acreditou em nossa proposta, os Trabalhadores Rurais Sem Terra, estes nos acolheram em 2010 e novamente em 2015. Aderiram ao projeto e nos recepcionaram muito bem em suas residências, com o calor humano do brasileiro. Sorrisos, abraços, lanchinhos, simplicidade, sinceridade; adjetivos que nos motivavam a viajar pelos municípios da região sul de Sergipe, para assentamentos de difícil acesso, com carência do básico para uma vida saudável e digna. Este projeto não seria concluído sem a ajuda de vocês que nos aguardavam às margens das estradas para nos conduzir aos assentamentos, com a simplicidade e gentileza peculiar do nosso povo, forneciam dados necessários para consolidação da pesquisa, atentos a nossas orientações e queixosos da dificuldade de acesso ao serviço de saúde, viam na equipe uma possibilidade de ajuda e não se intimidavam em recorrer. Tivemos a oportunidade, inclusive, de acompanhar e intervir em um quadro de abdome agudo ocasionado por uma queda de cavalo. Referindo muita dor, entretanto com dificuldade de acessar os serviços de saúde, o Sem Terra aguardava em casa, sem tratamento adequado. Durante a ultrassonografia abdominal, verificou-se o sangramento no baço sendo encaminhado a um serviço de urgência e operado, tendo uma recuperação rápida.

AGRADECIMENTOS Esse projeto não teria acontecido sem a preciosa ajuda de muitos e queridos amigos e familiares. Gostaria de agradecer a Deus por ter me dado força, saúde e coragem para realizar esse projeto de pesquisa. Agradeço imensamente a minha orientadora profª Drª Angela Maria da Silva, pessoa que muito admiro. Agradeço pela constante presença acadêmica, harmoniosa e amigável convivência. Com ela aprendi que a prática da pesquisa e do ensino exigem dedicação, disciplina e rigor, além de prazer em fazer. A minha Co orientadora profª Drª Karina Conceição Araújo, agradeço a paciência e a atenção. A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFS pelo aprendizado e pela disponibilidade. Minha equipe que contribuiu na coleta de dados, agora amigos pessoais, os médicos Pedro Teles e Susana Cendon, o enfermeiro Paulo Henrique Santana, o graduando em enfermagem Gabriel Marcos e a graduanda em odontologia Bruna Figueiredo. Agradeço pela ajuda na análise espacial ao enfº Allan Dantas e o biólogo Marcio Bezerra. A Drª Luciana Bastos agradeço imensamente por ter dispensado seu tempo para realizar a ecografia abdominal nos Sem Terras. Minha família maravilhosa, com um destaque especial para minhas irmãs Izabel Cristina, Janalice Oliveira e Jenisson Oliveira que me auxiliaram na pesquisa de campo. Meus filhos Lucas e Felipe que tiveram muita compreensão quanto a minha ausência, além de me ajudarem na identificação dos kits para envio ao laboratório. Não posso deixar de agradecer aos trabalhadores rurais Sem Terra, sem eles não seria possível a conclusão do projeto. Flavia Costa, coordenadora do laboratório do HU/UFS. A todos os colegas do doutorado, em especial minhas amigas Irlaneide Tavares e Nara Soares. A todos os envolvidos direta e indiretamente nesta pesquisa meus cordiais agradecimentos.

EPÍGRAFE

Veja Não diga que a canção está perdida Tenha fé em Deus, tenha fé na vida Tente outra vez

Queira Basta ser sincero e desejar profundo Você será capaz de sacudir o mundo Tente outra vez

Tente E não diga que a vitória está perdida Se é de batalhas que se vive a vida Tente outra vez... (Raul Seixas – música Tente Outra Vez)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DOS

Divisão de Organização Sanitária

DTN

Doença Tropical Negligenciada

GIS

Geografic Information System

GPS HU

Global Positioning System Hospital Universitário

IDH

Índice de Desenvolvimento Humano

INCRA

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INMETRO

Instituto de Metrologia

MEC

Ministério da Educação

MS

Ministério da Saúde

MST

Movimento dos Sem Terra

OMS

Organização Mundial da Saúde

OPAS

Organizaçao Pan Americana da saúde

PCE

Programa de Controle da Esquistossomose

PNRA

Plano Nacional de Reforma Agrária

PROCERA

Programa de Crédito Regional para Reforma Agrária

S. mansoni

Shistosoma mansoni

SIG

Sistema de Informações Geográficas

SISPCE

Sistema de informação do programa de controle da esquistossomose

TC

Tomografia Computadora

TCLE

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TF TEST

Three Fecal Test

UFS

Universidade Federal de Sergipe

WHO

World Health Organization

RESUMO OLIVEIRA, GG de. Investigação Epidemiológica e Geo Espacial da Esquistossomose Mansônica em Área Ocupada por Trabalhadores Rurais Sem Terra. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Universidade Federal de Sergipe - UFS, 2016. Introdução: A Esquistossomose mansônica é uma doença causada pelo trematódeo digenético Schistosoma mansoni. É endêmica em 78 países tropicais e subtropicais. No Brasil acomete a população dos estados de Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Bahia Paraíba e Minas Gerais. Movimento de Sem Terras, é um movimento brasileiro cujo objetivo é implantar a reforma agrária. Caracterizam-se pela invasão de terras, que consideram improdutivas, e instalam-se em propriedades sem condições ideais de moradia, tendo que utilizar a água do rio para consumo, lazer, atividades domésticas e agricultura, propiciando a manutenção do ciclo evolutivo da doença. Em meio as dificuldades para controlar a doença, surge uma ferramenta para auxiliar no controle e monitoramento, a tecnologia geo - espacial, e com ela o SIG (Sistema de Informação Geográfica) e GPS (Geografic Positioning System). Estes vêm facilitando a integração de observação da terra, determinando parâmetros ambientais com dados de saúde para o desenvolvimento de vigilância das doenças e modelos de controle. Objetivos: Diante desta problemática, buscou-se descrever e analisar aspectos epidemiológicos e geo espaciais de esquistossomose mansônica em famílias de Sem Terra da região sul de Sergipe investigadas e tratadas no ano de 2010 com segmento em 2015. Método: Trata-se de estudos transversais realizados em 2010 e 2015, quando foram investigados 13 assentamentos de Sem Terras. No ano de 2010, 601 indivíduos foram incluídos na pesquisa, em 2015, 1139. Nos dois inquéritos foi utilizado o TF Test® para análise das fezes e no segundo inquérito, os positivos realizaram ecografia abdominal. Para o mapeamento da área foi utilizado o GPS. Os dados coletados foram analisados por meio da técnica de interpolação exploratória, estimativa de Kernel, esta técnica gerou uma superfície de densidade para a detecção visual de “áreas quentes” ou “hotspots”, entendidas como uma concentração de eventos que indica de alguma forma a aglomeração em uma distribuição espacial. Resultados: Em 2010, obteve-se 4.3% de parasitológicos positivos para S. mansoni todos na fase crônica intestinal. Em 2015, 2,6% estavam infectados, sendo que oito deles na fase hepatointestinal. No segundo inquérito, os assentamentos mantinham as condições sócio demográficas do primeiro, como a falta de saneamento básico, rede de esgoto, água tratada para consumo e escolaridade. Nos dois inquéritos os casos humanos positivos foram tratados e os mais graves encaminhados ao ambulatório do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe para acompanhamento. Dos 13 assentamentos pesquisados em 2010, 08 (61,5%) tiveram casos humanos positivos para S. mansoni. Em 2015, 11 (84,6%) apresentaram resultados positivos. Nos dois inquéritos, foi demonstrada a ocorrência de nove espécies de helmintos e quatro de protozoários. Os resultados da análise espacial apontam a existência de oito principais áreas de riscos situadas na região sul de Sergipe. Conclusão: A análise espacial mostrou que a distribuição da doença não foi homogênea. A prevalência da doença na região é baixa, entretanto as condições sócio demográficas apontam um cenário preocupante com focos em 11 dos 13 assentamentos. É notória a necessidade urgente de intervenção do governo no que concerne a prevenção e controle da doença. . Descritores: Esquistossomose mansoni; Epidemiologia; Análise Espacial

ABSTRACT

OLIVEIRA, GG de. Epidemiological and Geo Spatial research of schistosomiasis mansoni in area occupied by Landless Workers: Ph.D. Dissertation Graduate Program in Health Sciences. Universidade Federal de Sergipe - UFS, 2016. Introduction: The schistosoniasis mansoni is a disease caused by digenetic trematode Schistosoma mansoni. It is endemic in 78 tropical and subtropical countries. In Brazil it affects the states of Alagoas, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Bahia and Minas Gerais. Landless movement, is a Brazilian movement whose goal is to implement agrarian reform, they invade lands, considered by them as unproductive and settle on properties without ideal conditions of housing, having to use river water for consumption, leisure, household activities and agriculture, enabling the maintenance of the evolutionary cycle of the disease. In the midst of the difficulties to control the disease, there is a tool to assist in controlling and monitoring technology, geo-spatial, and with it the GIS (Geographic Information System) and GPS (Geografic Positioning System). These are facilitating the integration of the land observation, determining environmental parameters with health data for the development of surveillance of diseases and models of control. Goals: Facing this problem, we sought to describe and analyze epidemiological and geo-spatial aspects of schistosomiasis mansoni in landless families in the southern region of Sergipe investigated and treated in the year 2010 with segment in 2015. Method: It is about cross-sectional studies conducted in 2010 and 2015, when13 Landless settlements were investigated. In the year 2010, 601 individuals were included in the research, in 2015, 1139. In both surveys the TF Test ® was used for analysis of faeces and in the second survey, the positives had abdominal echography performed. For the mapping of the area it was used GPS. The collected data were analyzed through the technique of exploratory interpolation, estimate kernel, this technique has generated a surface density for the visual detection of "hot areas" or “hotspots”, understood as a concentration of events that indicates in some way the agglomeration in a spatial distribution. Results: In 2010, we obtained a proportion of parasitological positive for S. mansoni of 4.3%, all of them in the intestines chronic phase. In 2015, 2.6% was infected, and eight of them in hepatointestinal phase. In the second survey, the settlements kept the demographic characteristics of the first one such as the lack of basic sanitation, sewage system, treated water for consumption and education. In both surveys the positives human cases were treated, and the most severe referred to the outpatient clinic of the University Hospital of the Federal University of Sergipe for follow-up. Out of the 13 settlements surveyed in 2010, 08 (61.5%) tested positive for mansoni. In 2015, 11 (84.6%) has positive results. In both surveys, it was demonstrated the occurrence of nine species of helminthes and four of protozoa. The results of spatial analysis indicate the existence of eight areas of main risks situated in the southern region of Sergipe state. Conclusion: The spatial analysis showed that the distribution of the disease was not homogeneous. The prevalence of the disease in the region is low, however the socio demographic characteristics indicate a worrying scenario with outbreaks in 11 out of the 13 settlements. We are all aware of the urgent need for government intervention when it comes to prevention and control of disease. . Descriptors Schistosomiasis mansoni, epidemiology, spatial analysis.

SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO........................................................................................... 2 REFERENCIALTEÓRICO................................................................................... 2.1Conceito............................................................................................................ 2.2 Ciclo Evolutivo.................................................................................................. 2.3 Aspectos Epidemiológicos da Esquistossomose............................................. 2.4 Determinantes da Introdução e Propagação da Esquistossomose no Brasil...

12 14 14 15 16 19

2.5 Medidas de Controle........................................................................................ 2.6 Aspectos Clínicos e Laboratoriais.................................................................... 2.7 Diagnóstico....................................................................................................... 2.8 Tratamento ...................................................................................................... 2.9 Geoprocessamento como Ferramenta na Saúde Pública................................ 2.10 A História do MST.......................................................................................... 3 OBJETIVOS........................................................................................................ 3.1 Geral................................................................................................................. 3.2 Específicos....................................................................................................... 4 CASUÍSTICA E MÉTODOS................................................................................ 4.1 Delineamento do Estudo.................................................................................. 4.2 Local do Estudo................................................................................................ 4.3 População Alvo................................................................................................. 4.4 Critérios de Inclusão......................................................................................... 4.5 Seleção............................................................................................................. 4.6 Coleta............................................................................................................... 4.7 Exame Parasitológico de Fezes....................................................................... 4.8 Descrição do Método Parasitológico................................................................ 4.9 Considerações Éticas....................................................................................... 4.10 Descrição Estatística...................................................................................... 4.11 Construção dos Mapas de Risco com os Dados Georreferenciados............. 4.12 Análise dos Dados Espaciais....................................................................... 5 RESULTADOS.................................................................................................... 5.1 Artigo 1 -“Epidemiological aspects of schistosomiasis in workers of the Movement of Landless Rural Workers”. Publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.............................................................................. 5.2Artigo 2 -“Prevalence of intestinal parasitoses in families of landless workers' movement”. Publicado no J Nurs UFPE on line.................................................................. 5.3Artigo 3 - “Landless farmworkers in Sergipe - Brazil: Assessment on S.mansoni in epidemiological queries”. Submetido na BMC Infectious Diseases of Poverty................................................................................................................................. 5.4Artigo 4 – “Epidemiological and Geospatial Investigation of Schistosomiasis mansoni in Area Occupied by Landless Workers: A Cross-Sectional Study”. Sumetido na BMC Research Notes...................................................................................................... 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 7 PERSPECTIVAS................................................................................................. 8 CONCLUSÃO...................................................................................................... REFERÊNCIAS...................................................................................................... APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO........ APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA...................................................... APÊNDICE C - APRESENTAÇÃO DO TRABALHO EM CONGRESSO.............. APÊNDICE D - NORMAS DAS REVISTAS PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS

19 20 20 23 23 26 29 29 29 30 30 30 30 31 31 32 33 33 34 35 35 36 37

38 42

50

67 96 97 98 99 103 105 108 109

12

1.INTRODUÇÃO

A esquistossomose é uma doença tropical negligenciada que acomete populações carentes e é de difícil controle em países tropicais e subdesenvolvidos, devido às precárias condições de vida da população. Do ponto de vista epidemiológico, o processo migratório do Movimento dos Sem Terras (MST), organizado por trabalhadores rurais que migram para terras consideradas por eles como improdutivas, sob condições precárias de higiene, ocasiona a disseminação da doença. Sem locais adequados para dejetos e água potável, estes trabalhadores utilizam a água do rio para consumo, higiene e lazer, favorecendo o ciclo evolutivo da doença (SANTOS, 2010).

Devido a predisposição dessa população é que se desenvolveu o estudo em 2010. Tratava-se, na época, de uma pesquisa inédita, em família de sem terras e que continha uma tríade favorável a propagação da doença: população predisposta; doença negligenciada e ambiente degradado.

Após a conclusão do primeiro inquérito, com a população orientada quanto aos critérios de transmissão e tratada após confirmação diagnóstica, gerou por parte da pesquisadora uma expectativa de que a endemia pudesse ter sido controlada. A hipótese em questão era que mesmo sem a intervenção do governo no que concerne ao tratamento da água para consumo, tratamento das coleções hídricas e saneamento básico, contudo utilizando a educação e a quimioterapia para os casos positivos seria possível controlar a doença em área de baixa endemicidade.

Quatro anos após a intervenção buscou-se investigar a região. O novo estudo emprega a análise espacial para gerar mapas de risco, reavalia os aspectos epidemiológicos da doença na região e utiliza o exame de ultrassonografia abdominal para avaliar comprometimento hepatoesplênico, na tentativa de responder as questões norteadoras a saber: 

A população investigada havia conseguido controlar a doença na região?



Houve mudanças nas condições do ambiente: Saneamento, esgoto, água para

consumo? 

Houve redução quanto as parasitoses evidenciadas no primeiro inquérito?

13

O presente estudo procura responder a essas questões e ampliar o conhecimento acerca da doença, que teve seu estudo epidemiológico no Brasil iniciado na década de 40 por Simões Barbosa (COIMBRA –JR e CARLOS, 1997), e continua a desafiar pesquisadores e médicos buscando promover uma melhor condição de vida para a população carente.

O tema é relevante para o sistema de saúde, pois acomete populações pobres, a exemplo de trabalhadores rurais e populações ribeirinhas, além de outras comunidades. Estas populações devido às condições sanitárias, estão expostas a coleções hídricas contaminadas e o reconhecimento destes grupos pode possibilitar intervenções sociais para reduzir os fatores específicos de risco, sugerindo um processo de diagnóstico, ação, avaliação e adequação das estratégias de atuação dos serviços de saúde.

14

2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Conceito

A Esquistossomose é uma doença causada pelo trematódeo digenético Schistosoma mansoni, cuja manifestação mais importante está relacionada à fibrose hepática ocasionada pelo parasita (AMORIM et al, 2014). Considerada uma doença tropical negligenciada (DTN), sua distribuição é heterogênea e o seu ciclo de vida depende de contato com a água, saneamento precário e à presença de habitat adequado ao hospedeiro intermediário, caramujos de água doce do gênero Biomphalaria (BETSON, 2013). Os caramujos infectados liberam a cercária na água e o contato humano com a água, onde os hospedeiros intermediários vivem, é fonte de disseminação da esquistossomose (WHO, 2013).

Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 900 milhões de pessoas não têm acesso a águal potável e 2,5 bilhões vivem sem saneamento adequado. São dados que só reforçam a condição de negligência em que se encontra a doença e com uma baixa perspectiva de melhora, especialmente nas regiões da África e Sudeste Asiático (WHO, 2012).

Em janeiro de 2012, a OMS, publicou um manual com definição de metas para prevenção, controle e erradicaçao de 17 doenças tropicais negligenciadas, dentre elas a esquistossomose. Este baseou-se na Declaração de Londres para doenças tropicais negligenciadas e teve dentre seus objetivos expandir os programas de acesso à droga para assegurar o fornecimento de medicamentos e outras intervenções para o controlar da esquistossomose até 2020. Em 2013 foi publicado outro relatório ratificando a meta (WHO, 2013).

De acordo com a OMS, a esquistossomose e em particular o S. mansoni, ainda não tem previsão de eliminação na África Subsaariana, principalmente devido a falta de recursos que impactam na distribuição de medicamentos, entretanto as metas pactuadas no acordo de Genebra em 2013 devem ser mantidas. A OMS utiliza como estratégia as boas práticas desenvolvidas por países que eliminaram a doença ou chegaram perto de fazê-lo (WHO, 2012). A esquistossomose é um grave problema de saúde pública e o trabalho da OMS é para que seja eliminado nos vários países da África até 2020 e no mundo até 2025. A meta para o Brasil é que a doença seja erradicada até 2020 (WHO 2012). A doença tem grande impacto

15

social e econômico, afeta cerca de 200 milhões de pessoas no mundo, destes, cerca de seis milhões ocorrem no Brasil, particularmente na região nordeste (KATZ e PEIXOTO 2000, apud SILVA PCV et al, 2011).

2.2 Ciclo Evolutivo

O ciclo de vida da esquistossomose envolve uma fase de reprodução sexuada por vermes adultos no hospedeiro definitivo, o homem, e uma fase assexuada no hospedeiro intermediário, um caracol de água doce específico. A partir do molusco, as cercárias são liberadas na água circundante e podem invadir os seres humanos através da pele (ASSARÉ et al, 2014).

A figura 1 mostra o ciclo evolutivo do schistosoma mansoni. O homem quando infectado pelo S. mansoni, elimina ovos nas fezes, que quando em contato com a água liberam as larvas (miracídios) que penetram no caramujo do gênero Biomphalária, após seis semanas, abandonam o caramujo, na forma de larva flagelada, denominada cercária que fica livre nas águas naturais.

O contato humano com águas que contêm cercárias, possibilita a infecção do indivíduo. Ao penetrar na pele ou mucosa das pessoas, as cercárias perdem a cauda e se transformam em esquitossômulos, que migram pelo tecido subcutâneo e, ao entrarem em um vaso são levados até os pulmões. Dos pulmões se dirigem para o sistema porta intra-hepático onde se desenvolvem em fêmea ou macho. Os vermes adultos se acasalam e migram para a via mesentérica inferior, onde ocorrerá a ovoposição. Os ovos são depositados na submucosa e daí chegam à luz intestinal. Os ovos que conseguem chegar à luz intestinal vão para o exterior por meio do bolo fecal. Uma parte poderá ficar presa à mucosa intestinal ou serem arrastados para o fígado. (AKANDE e ODETOLA, 2013).

16

Figura 01: Ciclo Evolutivo do Schistosoma mansoni. FONTE: Brasil, 2014.

2.3 Aspectos Epidemiológicos da Esquistossomose

A esquistossomose é uma doença endêmica, predominante em países subdesenvolvidos, atinge comunidades carentes, que vivem em precárias condições de higiene e sem uma estrutura sanitária adequada (FARIAS et al, 2007). O S. mansoni está presente na África, Oriente Médio, Caribe, Brasil, Venezuela e Suriname (WHO, 2013). É endêmica em 78 países, tropicais e subtropicais, sendo 42 localizados na África. Segundo WHO (2012), aproximadamente 240 milhões de pessoas se encontram infectadas pela doença, sobretudo na África, Ásia e nas Américas, destas 120 milhões apresentam sintomas e 20 milhões afecções graves em todo o mundo.

17

No Brasil, há a estimativa que entre 2.500.000 e 8.000.000 estejam infectados pelo parasito da esquistossomose em 19 estados da federação (ASSARÉ et al, 2014).

Os estudos epidemiológicos da esquistossomose foram iniciados no Brasil na década de 40, pelo pesquisador Adolfo Frederico Simões Barbosa que no ano de 1950, dedicou-se ao estudo da doença através de pesquisa de campo nas comunidades, metodologia inovadora na época por não centrar os estudos em pacientes nos ambientes hospitalares. As contribuições foram significativas sobre o conhecimento dos vetores, dinâmicas de transmissão, epidemiologia e estratégias de controle da esquistossomose (COIMBRA –JR e CARLOS, 1997).

Na década de 50 ocorreu o primeiro inquérito nacional de prevalência de esquistossomose em escolares de sete a quatorze anos de idade em 11 estados brasileiros. Este inquérito foi realizado pela Divisão de Organização Sanitária – DOS vinculados ao Ministério da Educação – MEC e Ministério da Saúde – MS, obtendo – se uma prevalência média de 10,1%. Em 1953 foi realizado novo inquérito em cinco estados das regiões sudeste, sul e centro-oeste em áreas supostamente não endêmica para a esquistossomose e obteve –se uma prevalência de 0,08% (KATZ e PEIXOTO, 2000).

Um estudo realizado por Barbosa et al (2012) em Pernambuco, destaca que a prevalência das infecções por geohelmintos e esquistossomose continuam elevadas e estimase que mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, cerca de um terço da população mundial pode ser infectada por um ou mais parasitos. Veiga et al, (2013), relatam que após a implantação do Programa de Controle da Esquistossomose em 1976, já se observa no Brasil, queda nas taxas de prevalência de 23,3% em 1997 para 5,4% em 2002, entretanto a doença ainda é causa de morbidade significativa.

Na figura 2 o Brasil é identificado como um país de média prevalência para a esquistossomose, porém não deixa de ser um grave problema de saúde pública. Considerada endêmica na região litorânea do Brasil, entretanto tem maior prevalência observada nos estados de Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Paraíba e Minas Gerais (ASSARÉ et al, 2014). Rolemberg, et al (2011) enfatizam que a situação de higiene, tem influência no grau de contaminação ambiental por ovos de S. mansoni dos municípios, ou seja, onde há maior rede de esgotos a prevalência da esquistossomose é menor.

18

O Estado de Sergipe apresenta uma das maiores prevalências do país. Segundo dados do Ministério da Saúde, a média da prevalência de esquistossomose em Sergipe no período de 1980 a 1989 foi de 17,3%, segunda maior do Brasil, menor apenas do que a do Estado de Alagoas. Considerando-se o período de 1990 a 2002, a média no estado foi de 17,7%, bem acima da média nacional de 9,2%. A distribuição geográfica da endemia em Sergipe atinge 68% dos municípios. (ROLEMBERG et al, 2011; FARIAS et al, 2007).

O IDH de todos os municípios de Sergipe é compatível com municípios em desenvolvimento. Entretanto, a esquistossomose mansônica está presente mesmo na cidade de Aracaju que possui IDH semelhante ao de países desenvolvidos. Como a doença é habitualmente focal, estes dados sugerem que alguns segmentos dessas populações estão sujeitos a condições sanitárias que afrontam a dignidade humana e possibilitam a persistência da doença (GUIMARÃES, 2006).

Figura 2: Distribuição Global da Esquistossomose. Fonte: WHO 2013 adaptado

19

2.4 Determinantes da Introdução e Propagação da Esquistossomose no Brasil

Vários fatores contribuem para a disseminação da esquistossomose. Características demográficas, incluindo idade, sexo, etnia e status socioeconômico têm uma forte influência sobre a distribuição espacial da esquistossomose. Chuvas intensas e inundações podem ser responsáveis pela reintrodução de caramujos hospedeiros intermediários para as áreas a partir do qual a esquistossomose anteriormente tinha sido eliminada (ASSARÉ et al, 2014).

2.5 Medidas de Controle

O uso da quimioterapia desempenha um papel preponderante no controle da esquistossomose. O controle do caramujo por meio do uso de moluscicidas, está sendo empregado em programas de manejo integrado, o nível de eficácia deste método, no entanto, ainda é subjetivo. O controle da esquistossomose, portanto, por moluscicidas interdepende da imunoterapia e quimioterapia. A quimioterapia em massa para regiões de alta prevalência, pode proporcionar bons resultados inicialmente, mas pode ser incapaz de dar um efeito duradouro devido a grandes variações ambientais, daí a necessidade de outras abordagens, tais como controle de caramujo (AKANDE e ODETOLA, 2013).

Um estudo realizado por Masaku et al (2015) faz uma crítica aos programas de controle da esquistossomose, pois enfatiza a quimioprofilaxia, negligenciando outros componentes essenciais para o controle do S. mansoni, tais como o fornecimento de água potável, instalações sanitárias, educação em saúde e higiene pessoal, além do controle do hospedeiro intermediário.

No Brasil, o Programa de Controle da Esquistossomose (PCE) foi criado na década de 70 com o objetivo de controlar a esquistossomose (PRATA, 2005). O programa é responsável, em nível estadual, por capacitar e orientar os serviços municipais de saúde de modo que eles sejam capazes de identificar, diagnosticar e tratar casos da doença e identificar focos dos vetores. Os dados recolhidos pelos municípios devem ser registrados no sistema de informação PCE (SISPCE) e enviados para consolidação e análise, a nível central, ou seja, nos escritórios de coordenação do PCE em cada estado. Entretanto esses dados não devem ser

20

utilizados como fonte segura de informação, devido a amostragem não obedecer a critérios estatísticos (BARBOSA et al, 2012).

2.6 Aspectos Clínicos e Laboratoriais

Nos estágios iniciais da infecção, ou seja, na forma aguda, pode ser assintomática ou apresentar a dermatite cercariana, micropápulas eritematosas e pruriginosas ocasionada pela penetração da cercária na pele. A febre de Katayama pode aparecer de três a sete semanas de exposição. É caracterizada por alterações gerais que compreendem linfodenopatia, febre, cefaleia, anorexia, dor abdominal e, com menor frequência, o paciente pode referir diarreia, náuseas, vômitos e tosse seca. As complicações das síndromes agudas e crônicas também foram relatadas, ou seja, hipertensão pulmonar, neuroesquistossomose, associação com salmonela, e associação com estafilococos, hepatite viral B e glomerulonefrite. Na maioria dos indivíduos com esquistossomose hepatoesplênica o baço aumenta de tamanho (AKANDE e ODETOLA, 2013).

A forma crônica, inicia-se a partir de seis meses após a infecção. Nessa forma podem surgir os sinais de progressão da doença para diversos órgãos, chegando a atingir graus extremos de severidade, como hipertensão pulmonar e portal, ascite, ruptura de varizes do esôfago. As manifestações clínicas variam, a depender da localização e intensidade do parasitismo, da capacidade de resposta do indivíduo ou do tratamento instituído. Apresentase, mas seguintes formas: Intestinal, hepatointestinal e hepatoesplênica compensada ou descompensada. (ASSARÉ et al, 2014; WHO, 2013).

2.7 Diagnóstico

Em 2012 Vitorino e col. publicaram um artigo de revisão que traz dados importantes acerca do diagnóstico da esquistossomose mansônica. Inicialmente eles tratam do diagnóstico diferencial, importante para o desfecho da doença. A esquistossomose mansônica é semelhante a inúmeras outras entidades nosológicas, em função das manifestações clínicas plurais que ocorrem durante sua evolução. Diante desta perspectiva, torna-se imprescindível que se faça o diagnóstico diferencial para cada fase evolutiva da infecção. Por exemplo, a dermatite cercariana pode ser confundida com síndromes exantemáticas; a fase aguda da EM pode mimetizar o quadro de outras condições infecciosas agudas; e na sua forma crônica, diversas outras condições devem ser descartadas (p.2).

21

A seguir serão descritos os métodos diagnósticos de acordo com o Manual de Vigilância da Esquistossomose Mansoni – Brasil (2014).

2.7.1 Métodos Diretos

São aqueles que consistem na visualização ou na demonstração da presença de ovos de S. mansoni nas fezes ou tecidos ou de antígenos circulantes do parasito, como métodos diretos são destacados:

a- Técnica de KatoKatz: é a mais utilizada pelos programas de controle e recomendada pela Organização Mundial da Saúde. Além da visualização dos ovos, permite que seja feita a contagem destes por grama de fezes, fornecendo um indicador quantitativo para se avaliar a intensidade da infecção. É o método de escolha para inquéritos coproscópicos de rotina e em investigações epidemiológicas.

b- Técnica de sedimentação espontânea ou de Lutz: também conhecida por Hoffman, Pons e Janer (HPJ): permite a identificação dos ovos e sua diferenciação em viáveis ou não. É excelente método qualitativo de diagnóstico, porém não permite a quantificação da intensidade da infecção medida pela contagem dos ovos encontrados numa determinada quantidade de fezes. É a técnica mais utilizada nos laboratórios de análises clínicas.

c- Técnica da eclosão dos miracídios: o procedimento é demorado, exige água em boas condições e técnicos que saibam diferenciar miracídios de protozoários de vida livre.

d- ELISA de captura: este teste, embora imunológico, é considerado método de diagnóstico direto porque evidencia a presença de antígeno circulante secretado pelo verme adulto.

e- Biópsia retal: consiste na retirada de fragmentos da mucosa retal e seu exame, para a detecção de ovos em seus diferentes estágios evolutivos. Permite a contagem e classificação dos ovos.

22

f- Biópsia hepática: dentre as biópsias para o diagnóstico da esquistossomose é a mais comum. É recurso que só deve ser utilizado quando a doença se apresenta clinicamente grave e quando os meios diagnósticos já mencionados não permitiram a confirmação da esquistossomose ou a sua diferenciação de outras hepatopatias.

g- Outras biópsias: a biópsia de outros sítios (exemplo: pulmão, medula espinhal, pele, testículos, ovário, cérebro, pólipos intestinais) representa, com frequência, a única forma de definir o diagnóstico nesses órgãos.

h- Outros métodos de alta sensibilidade em desenvolvimento: detecção de ácidos nucleicos (PCR) nas fezes, métodos de isolamento de ovos de S. mansoni nas fezes pela interação com microesferas (Helmintex).

2.7.2 Métodos Indiretos

São aqueles baseados em mecanismos imunológicos, envolvendo reação de antígeno anticorpo e que têm aplicação quase sempre em inquéritos epidemiológicos, acompanhados ou não de exames de fezes.

2.7.3 Diagnóstico por imagem

a- Ultrassonografia do abdômen: é um método desenvolvido nas duas últimas décadas e que apresenta extensa aplicação no diagnóstico das doenças intra-abdominais. Nos últimos 10 anos vários estudos têm comprovado o seu valor no diagnóstico da forma hepatoesplênica da

esquistossomose

mansônica.

Técnicas

de

imagem

como

ultrassonografia,

ecocardiograma (Doppler), tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética, introduziram uma nova perspectiva, e expandiram o conhecimento sobre a morbidade. (AKANDE e ODETOLA, 2013).

b- Radiografia do tórax em PA e perfil: método indireto, importante para diagnosticar a hipertensão arterial pulmonar consequente da arterite pulmonar esquistossomótica.

c- Endoscopia digestiva alta: utilizada no diagnóstico e tratamento das varizes gastresofágicas resultantes da hipertensão portal na esquistossomose hepatoesplênica.

23

d- Ressonância magnética: exame radiológico de grande importância no diagnóstico da mielopatia esquistossomótica. Está sendo avaliada para o diagnóstico da fibrose periportal na forma hepatoesplênica.

e- Eco-doppler-cardiografia: exame de escolha na avaliação da hipertensão pulmonar esquistossomótica.

2.8 Tratamento

Praziquantel é um derivado pirazino-isoquinoleínico, do grupo dos tioxantônicos, que oferece larga margem de segurança para o tratamento da esquistossomose. Foi introduzido, em 1996, na rotina do PCE e atualmente é o único medicamento utilizado (BRASIL, 2014). Muitos países têm implantado a quimioterapia profilática nos programas de controle da doença com impacto positivo na morbidade, prevenção e controle da transmissão (WHO, 2013).

2.9 O Geoprocessamento como Ferramenta na Saúde Pública

Num país de dimensão continental como o Brasil, com uma grande carência de informações adequadas para a tomada de decisões sobre os problemas urbanos, rurais e ambientais, o Geoprocessamento apresenta um enorme potencial, principalmente se baseado em tecnologias de custo relativamente baixo, em que o conhecimento seja adquirido localmente (GILBERTO CÂMARA; CLODOVEU DAVIS, 2001).

O desenvolvimento de tecnologias de mapeamento digital e particularmente dos ambientes genericamente denominados Sistemas de Informações Geográficas (SIG) abriu novos caminhos para investigações epidemiológicas que têm se utilizado de técnicas para mapear e analisar a distribuição de eventos relacionados à saúde (CARVALHO; SOUZASANTOS, 2005). O SIG surgiu na Saúde Pública para melhorar as possibilidades da descrição e análise espacial das doenças em grandes conjuntos de dados georreferenciados. A capacidade de executar múltiplos questionamentos sobre o conjunto de dados, junto com o uso de alta

24

resolução gráfica tem facilitado a obtenção de informações relevantes (MEDRONHO, 1995). É uma importante ferramenta para geoprocessamento, pois permite realizar análises complexas ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de dados geo – referenciados. (GILBERTO CÂMARA; CLODOVEU DAVIS, 2001).

Segundo Carvalho, Pina e Santos (2000), detalhes das condições ambientais que interferem com a saúde da população podem ser mostrados em mapas que apresentam a distribuição espacial de áreas de risco, permitindo que epidemiologistas entendam a dinâmica espacial da doença, além de suas variações no espaço geográfico e no tempo. Há mais de uma década, a Organização Pan-Americana de Saúde tem indicado a utilização de Sistema de Informação Geográfica como um importante instrumento para análise de algumas condições de saúde (OPAS, 1996; OPAS, 2002). Por meio desses sistemas de informação, os dados podem ser transformados em mapas temáticos, gráficos e tabelas, tornando possível o planejamento, análise, gerenciamento e monitoramento espacial dos dados (NAJAR; MARQUES, 1998).

Avanços em levantamentos epidemiológicos da esquistossomose resultaram no desenvolvimento de modelos de risco para as doenças transmitidas por caramujos com base no clima e satélite, estes permitem descrever a prevalência da doença, mas com pouca referência à distribuição do caramujo hospedeiro intermediário, apesar de na África subsaariana, ser um fator chave na determinação da distribuição da doença (AKANDE e ODETOLA, 2013).

Uma das principais aplicações do SIG na Epidemiologia é facilitar a identificação de áreas geográficas e grupos de populações que apresentem maior risco e que, portanto, precisam de maior atenção, seja preventiva, curativa ou de promoção da saúde. Desse modo, o geoprocessamento é um poderoso instrumento a serviço da pesquisa em saúde, pois permite planejar medidas de intervenção junto a fontes indicadoras, que identificam locais críticos. (MATSUMOTO, 2014).

Barbosa et al (2012), apresentam o SIG como uma ferramenta importante para determinar variações na ocorrência de problemas de saúde em tempo e espaço. Por meio de mapas, esta ferramenta torna possível observar a distribuição espacial das situações de risco e

25

problemas de saúde, proporcionando assim um panorama das condições ambientais de saúde da população, também possibilita o planejamento de vigilância sanitária e ações de saúde.

Atualmente, há uma rede global para o controle de doenças transmitidas pelo caramujo, dentre elas a esquistossomose, usando vigilâncias de satélite e SIG. Os modelos consistem na avaliação de dados do modelo climático global, sensores de satélite, observação da terra, prevalência da doença, distribuição e abundância de caramujos hospedeiros e mapas digitais de principais fatores ambientais que afetam o desenvolvimento e propagação de agentes de doenças transmitidas pelo caramujo. Um site de Internet, www.gnosisgis.org (Rede GIS infecções sobre caramujos) dá suporte com especial referência à esquistossomose. (AKANDE e ODETOLA, 2013).

A cartografia computadorizada, utilizada desde a década de 60 e intensificada nas décadas seguintes, possibilitou o refinamento na interpretação dos dados e o uso de novas técnicas de análise. Técnicas sofisticadas da estatística e da cartografia vêm sendo incorporadas, em particular técnicas multivariadas que objetivam explorar as associações ambientais, sociais e físicas com as doenças (ANDRADE, 2002).

As técnicas de análise espacial são orientadas pela natureza dos dados coletados. Existem diferentes técnicas para proceder à análise quando os dados estão disponíveis como: informações sobre fatores ambientais de caráter contínuo, informações sobre fluxo e acesso; dados relativos à localização precisa de eventos no espaço; dados relativos a área (BAILEY, 2001).

A análise de dados espaciais constitui-se em uma área de conhecimento que contribui para diversos estudos, subsidiando desde estratégias de intervenção de políticas públicas até a exploração etiológica dos eventos em saúde (SANTOS; NORONHA,2001).

O uso da análise estatística espacial como ferramenta de predição da ocorrência da esquistossomose teve início nos estudos realizados nas Filipinas e Caribe (CROSS; BAILEY, 1984; CROSS et al, 1984 apud Gomes, 2011) e tem sido amplamente empregado no estudo da distribuição deste agravo produzindo inferências de associação entre infecção e variáveis ambientais. Estudos de campo e modelagem têm melhorado a compreensão da epidemiologia espacial da esquistossomose na África, mostrando sua relevância no planejamento de

26

programas de controle da esquistossomose (BROOKER et al, 2001; BROOKER, 2007 apud Gomes, 2011).

Um método de análise espacial utilizado na epidemiologia é o estimador de intensidade de kernel. Trata-se de uma alternativa simples para analisar o comportamento de padrões de distribuição de pontos (eventos) e estimar a intensidade pontual do processo em toda a região de estudo, identificando áreas de risco para ocorrência do evento, nominadas “áreas quentes” ou “hotspots”. Para isto, ajusta-se uma função bidimensional sobre os eventos considerados, compondo uma superfície cujo valor será proporcional à intensidade de amostras por unidade de área. Esta função realiza uma contagem de todos os pontos dentro de uma região de influência, ponderando-os pela distância de cada um à localização de interesse. Os parâmetros básicos desse estimador são um raio de influência (τ ≥ 0) que define a vizinhança do ponto a ser interpolado e controla o "alisamento" da superfície gerada e uma função de estimação com propriedades de suavização do fenômeno (CÂMARA; CARVALHO, 2004 apud GOMES, 2011).

2.10 A História do MST

Os trabalhadores rurais sem terra fazem parte de um movimento social intitulado MST, que é um movimento social brasileiro de inspiração marxista cujo objetivo é a implantação da reforma agrária no Brasil (CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E MEMÓRIA DA UNESP).

O MST é uma organização social que surgiu oficialmente na primeira metade da década de 1980, no município de Cascavel, interior do Paraná. Contudo sua história começa muito antes desse período (FERNANDES, 2001 apud PATRIARCHA; PASTOR, 2011). A formação do movimento tem suas raízes em um contexto de exclusão e desigualdade histórica que apresenta particularidades, mas que também está ligado aos históricos confrontos sociais (SANTOS AXM, 2010).

De acordo com Caldart (2003), nesse 1º Encontro, foram elaborados os objetivos gerais do Movimento a saber: 1. Que a terra só esteja nas mãos de quem nela trabalha. 2. Lutar por uma sociedade sem exploradores e sem explorados.

27

3. Ser um movimento de massa autônomo dentro do movimento sindical para conquistar a reforma agrária. 4. Organizar os trabalhadores rurais na base. 5. Estimular a participação dos trabalhadores rurais no sindicato e no partido político. 6. Dedicar-se à formação de lideranças e construir uma direção política dos trabalhadores. 7. Articular-se com os trabalhadores da cidade e da América Latina.

As conquistas do MST se deram de forma lenta e dificil. Para Cintra (1999), uma das maiores aconteceu no ano de 1991 com a criação do Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (PROCERA), assinado pelo Ministro da Agricultura, Antônio Cabrera. Esse programa abriu uma possibilidade, ainda que restrita, aos trabalhadores assentados para a viabilização econômica. Mesmo porque o acesso ao crédito, por parte dos pequenos produtores, sempre foi muito dificil, já que os grandes proprietários rurais e as empresas agropecuárias historicamente são as beneficiárias dos financiamentos públicos no setor agropecuário brasileiro.

De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), assentamento é um conjunto de unidades agrícolas independentes entre si, instaladas pelo INCRA onde originalmente existia um imóvel rural que pertencia a um único proprietário. Cada uma dessas unidades, é entregue pelo instituto a uma família sem condições econômicas para adquirir e manter um imóvel rural por outras vias. Os trabalhadores rurais que recebem o lote comprometem-se a morar na parcela e a explorá-la para seu sustento, utilizando exclusivamente a mão de obra familiar.

Em Sergipe as ocupações surgiram a partir de 1985, período da restauração da democracia no país. Destaca-se, como elemento conjuntural favorável a estas manifestações dos trabalhadores rurais, toda a discussão sobre a questão agrária e a regulamentação do Estatuto da Terra, configurada no I Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), que ocorriam naquele ano. Em 1982, o INCRA desapropriou uma área de 1585 hectares, onde foram assentadas 145 famílias. Dessa conquista foi criado o primeiro projeto de reforma agrária do Estado de Sergipe, porém foi somente em 1989 que se deu a primeira grande ocupação (CINTRA, 1999; SANTOS, 2000).

28

Sergipe participa como os demais estados da Federação, da luta do MST pela reforma agrária iniciada na década de 1970, quando há uma retomada das manifestações populares através de novas formas de mobilização, trazendo à tona o processo de organização dos trabalhadores rurais (SANTOS, 2000).

29 3 OBJETIVOS

3.1 Geral  Descrever e analisar aspectos epidemiológicos e geo espaciais de esquistossomose mansônica em famílias de Sem Terra da região sul de Sergipe investigadas e tratadas desde o ano de 2010 com seguimento em 2015.

3.2 Específicos •

Aplicar técnicas de geoprocessamento, suas ferramentas e análises;



Verificar a prevalência de outras parasitoses;



Comparar a epidemiologia nos dois inquéritos epidemiológicos.

30 4 CASUÍSTICA E MÉTODOS

4.1 Delineamento do Estudo

Trata-se de dois estudos transversais realizados em 2010 e 2015.

4.2 Local do Estudo O estudo foi realizado nos assentamentos dos trabalhadores rurais Sem Terra, localizados em municípios da região Sul no Estado de Sergipe (figura 3).

Figura 03: Distribuição Espacial de Assentamentos do MST nos Município da Região Sul de Sergipe, 2016. Fonte: A pesquisadora

4.3 População Alvo

Trabalhadores rurais Sem Terra e familiares distribuídos pelo MST e cadastrados no INCRA da seguinte forma:

31

Em Estância, foram avaliados os Sem Terra dos assentamentos Manoel Ferreira composto de 23 famílias, Caio Prado com 90 famílias, Paulo Freire II com 24 famílias, Rosa Luxemburgo com 26 famílias, 17 de abril com 30 famílias e Roseli Nunes com 30 famílias. Em Itabaianinha avaliou-se os Sem Terra do assentamento 27 de abril com 55 famílias. Em Umbaúba foram avaliados os Sem Terra do assentamento Campo Alegre com 25 famílias. Em Indiaroba avaliou-se os Sem Terra dos assentamentos Bela Vista com 28 famílias e Joélia Lima com 45 famílias. Em Cristinápolis avaliou-se os Sem Terra dos assentamentos Vitória de São Roque com 30 famílias e São Francisco com 51 famílias e no município de Santa Luzia do Itanhy avaliou-se os Sem Terra do assentamento Cleonice Alves com 25 famílias.

4.4 Critérios de Inclusão

Foram incluídos todos os Sem Terra dos assentamentos do Sul de Sergipe que concordaram em participar da pesquisa. Todos os assentamentos investigados em 2010 foram reavaliados em 2015.

4.5

Seleção

Foram selecionadas famílias de Sem Terra da região sul do Estado de Sergipe. De acordo com a coordenação do MST no estado, essa região possui 227 famílias, o INCRA estima cinco pessoas por família, perfazendo um total de 1135 indivíduos. Entretanto, foi observado no segundo inquérito que algumas famílias utilizaram o espaço no terreno para abrigar os filhos, agora casados, com netos, gerando um crescimento populacional desordenado sem o conhecimento do INCRA. Como consequência, nos deparamos com cenário onde deveríamos ter em média 1673 assentados, porém 1772 foram entrevistados e 1139 entregaram as fezes para análise sendo incluídos na pesquisa. No ano de 2010, 822 moradores de assentamentos foram entrevistados, destes 601 foram incluídos na pesquisa pois fizeram a entrega do exame parasitológico de fezes.

32

4.6 Coleta

Um inquérito clínico epidemiológico foi realizado em todos os assentamentos por meio de visita domiciliar, onde as famílias foram abordadas pelos pesquisadores, em seguida realizada uma explicação sobre a natureza do estudo. Foi preenchida uma ficha de identificação dos trabalhadores e familiares residentes nos assentamentos contendo dados clínicos (Apêndice B).

Uma equipe de apoio composta por dois estudantes de medicina e dois estudantes de enfermagem auxiliaram na coleta dos dados. Os exames físicos, bem como a aferição da pressão arterial e medidas antropométricas, foram realizados pela pesquisadora e pelos estudantes de medicina nos positivos, no dia que foi realizado o exame de ecografia abdominal no HU - UFS. O preenchimento dos dados pessoais foi feito pela pesquisadora.

O exame clínico dos casos positivos foi realizado pelos investigadores, de acordo com uma ficha clínica padronizada (Apêndice B), contendo os principais dados para avaliação da morbidade. O exame do abdômen foi realizado em decúbito dorsal e a palpação do baço, quando não era conseguida nesse decúbito, era tentada também na posição de Schuster. O exame ecográfico foi realizado por um médico especialista no setor de imagens e métodos gráficos do HU/UFS. Foi utilizada a classificação descrita no Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde para definir a forma clínica da esquistossomose.

Os insumos utilizados a exemplo do esfignomanômetro e balança continham o selo de aprovação do Instituto de Metrologia (INMETRO).

33 4.7 Exame Parasitológico de Fezes

O exame foi realizado do primeiro bolo fecal, em três amostras, coletadas em dias alternados, agendados previamente com os assentados. As fezes foram recolhidas pela pesquisadora, em coletor individual de fezes, próprio do Kit TF Test ® (Three Fecal Test).

Os aspectos econômicos e práticos demonstram que a técnica de TF-Test® é apropriada para diagnóstico individual, inquéritos populacionais, assim como para avaliação de quimioterapia instituída em programas de controle das parasitoses intestinais.

As amostras de fezes foram encaminhadas ao laboratório de análises clínicas do Hospital Universitário da UFS e examinadas por um único profissional que fora treinado previamente.

4.8 Descrição do Método Parasitológico

O TF-Test® é constituído de três tubos coletores - usuário, um tubo de centrifugação e um conjunto de filtros contendo duas telas. Cada tubo coletor-usuário possui acoplado à sua tampa uma colher para coleta de fezes. Externamente, o tubo possui graduações de 1 ml a 9 ml. Existem ainda dois níveis assinalados com destaque. O primeiro nível, 5 ml, indica o nível do líquido conservante. O segundo, 6 ml, indica o limite máximo que pode ser atingido pelo líquido conservante após coleta das fezes. Este conjunto foi projetado para proporcionar maior rendimento na rotina diagnóstica. As dimensões, o formato, o grau de conicidade e os ângulos foram minuciosamente estudados (Lab. LEME).

O TF-Test foi avaliado em quatro laboratórios diferentes em um estudo utilizando 1.102 pacientes

ambulatoriais

e

indivíduos

que

vivem

em

uma

área

endêmica

de

enteroparasitoses. A sensibilidade global encontrada usando o teste-TF (86,2-97,8%) foi significativamente maior (P

Smile Life

When life gives you a hundred reasons to cry, show life that you have a thousand reasons to smile

Get in touch

© Copyright 2015 - 2024 PDFFOX.COM - All rights reserved.